Marielle Franco; Anderson Gomes; Homens e Mulheres mortos no crime ambiental de Brumadinho; meninos do Centro de Treinamento do Flamengo; Agatha Felix; Capoeirista Moa do Katendê; Paulo Guajajara.

CONAT/2019

Abertura – 06/11/2019

Por: Alessandra Camarano Martins – Presidenta da ABRAT

Marielle Franco; Anderson Gomes; Homens e Mulheres mortos no crime ambiental de Brumadinho; meninos do Centro de Treinamento do Flamengo; Agatha Felix; Capoeirista Moa do Katendê; Paulo Guajajara.

Não pedirei um minuto de silêncio pelo assassinato de todos vocês, porque não queremos o silêncio. Queremos que ecoe ao universo o grito abafado pela morte de seus corpos, por causa da ganância da humanidade que a serviço do poder, do dinheiro e do egoísmo, banalizam a vida e não se intimidam em espalhar o ódio.

Em  respeito ás suas almas, em solidariedade aos seus familiares que permanecem sem respostas e em cobrança ás autoridades competentes, eu cumprimento os presentes,  em uma inversão protocolar que nos é exigida nessa quadra em que o TER é maior que o SER e em que as relações líquidas escorrem pela sociedade em forma de dor, ódio, desprezo e desrespeito às instituições, ao estado democrático de direito, ao sistema de justiça e ao ser humano.  

Á mesa, composta por lideranças já nominadas pelo cerimonial, eu peço licença e cumprimento nas pessoas de inominados e inominadas. 

Homens e Mulheres que voluntariamente se banham no óleo tóxico derramado nas praias do nordeste, na ânsia de salvar  o meio ambiente e  a vida,  naquela perspectiva inerente  do “mais que humano em nós.”

Verdadeiros líderes. Líderes em sua essência profunda. Líderes em suas entranhas. 

Os grandes líderes são aqueles que se despem de si para ir em direção ao outro, á coletividade, porque o coletivo nos humaniza e ao nos humanizar conseguimos estabelecer uma relação de absoluto desprezo com a vaidade, com a necessidade de protagonizar, com o egoísmo, com a ambição desmedida, com ganância que nos fatiou em cores para facilitar o nosso aniquilamento, porque fatiados somos mais vulneráveis, indefesos  e mais destrutíveis.

Os movimentos atuais estão nos convidando a atuações cada vez mais coletivas e menos individuais. O mundo nos convoca a agirmos como seres humanos civilizados que caminham para a evolução e que deve deixar de lado qualquer espécie de vaidade ou necessidade de protagonismo, para uma atuação cada vez mais conjunta e ampla.

É absolutamente necessário, urgente e primordial a interseccionalidade de pautas. O conglobamento e a inclusão de temas relacionados ao mundo do trabalho em todos os espaços, porque o trabalho está na centralidade da Constituição Federal e é através dele que homens e mulheres adquirem dignidade, independência, autonomia e como conseqüência a diminuição da desigualdade social.

Diminuir a desigualdade social é romper com as barreiras do preconceito, fortalecendo cada vez a nossa voz e a nossa participação democrática na sociedade.

O direito do trabalho vem sendo degradado, fissurado, rompido em sua espinha dorsal, que é o sistema protetivo. 

Nesta degradação, são inúmeras as tentativas de corroer a Justiça do Trabalho e de exterminá-la. Uma pauta que nos preocupa e que merece a nossa atenção.

Acabar com a Justiça do Trabalho aprimora o intento de fomento ainda maior ás desigualdades sociais, que são o alicerce para a continuidade do autoritarismo e o silêncio das vozes que reclamam.

É preciso resgatar a obrigatoriedade do respeito aos direitos fundamentais.

É preciso estabelecer debates sobre a importância do valor da liberdade, uma conquista da humanidade.

Aquela liberdade como meio de exercer as potencialidades da pessoa humana. Aquela liberdade que resgata o ser e que o coloca no seio social em situação de igualdade de condições, de vozes, de direitos e não só da igualdade de morte.

Aquela liberdade que nos coloca de frente com a vida. 

Segundo Ângela Davis “A liberdade é uma luta constante”

Que sejamos livres!

Livres de preconceito; livres de vaidades; livres de autoritarismo; livres de ódio; livres de divisão e absolutamente livres no pensar e no agir.

Encerro com Simone de Beauvoir: “Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre, porque alguém disse e eu concordo que o tempo cura, que a mágoa passa, que decepção não mata. e que a vida sempre, sempre continua.”

Um excelente CONAT a todos e todas!

Declaro aberto o 41. Congresso Nacional da Advocacia Trabalhista.