Atletas profissionais mulheres ainda precisam lutar pelo básico no mundo do futebol: profissionalização e respeito. Elas têm que buscar o rompimento do preconceito ainda presente na sociedade atual de que “futebol não é coisa de mulher”.

Ora, o futebol é uma atividade esportiva que pode ser praticada por quem quiser, desde que a pessoa, seja mulher ou homem, possua condições de saúde para tal. Mulheres e homens têm os mesmos direitos assegurados na Constituição Federal de 1988. Portanto, excluir a mulher de ser uma atleta do futebol ou criar mecanismos que inviabilizem a sua permanência na modalidade, é desrespeitar também a lei brasileira fundamental e suprema.

 Percorrendo resumidamente a história do futebol feminino, há registros de partidas entre equipes de futebol femininas há quase um século: elas datam de 1920. Porém, durante o Estado Novo (1937 a 1945) e o Regime Militar (1964 a 1988), as mulheres eram proibidas de jogar futebol profissionalmente. Erroneamente, atribuía-se que o futebol era um esporte incompatível com a natureza feminina. Por lei, as mulheres não podiam jogar futebol de campo, de salão e de praia, além de praticar outros esportes, como polo aquático, polo, rúgbi, lutas, halterofilismo e beisebol. Os anos, a ciência e as próprias mulheres provaram que essa tese não se sustentava, tanto que começou a cair por terra em 1979, com a retomada do processo de redemocratização brasileira e revogação dessa lei absurda.

 De acordo com o historiador da Universidade Federal de São Carlos, Osmar Moreira de Souza Júnior, o fato das mulheres serem proibidas de jogar futebol, no século passado, não significava que elas não jogavam. Segundo ele, em 1950, existiam times femininos em Minas Gerais capazes de encher estádios com público interessado na prática. Após a revogação da lei que proibia a prática esportiva profissional por mulheres, a primeira seleção brasileira feminina organizou-se apenas em 1988. Já a primeira participação em Copas do Mundo ocorreu somente em 1991.

 A partir da década de 1990, mesmo enfrentando obstáculos, o futebol feminino começou a se firmar. Porém, lamentavelmente, houve uma tentativa de erotização das jogadoras no Campeonato Paulista de 1997. O critério de seleção das atletas levava em conta os atributos físicos, em detrimento de aspectos técnicos e objetivos, como o potencial futebolístico.

 Atualmente há falta de investimento, estrutura e apoio para as atletas do sexo feminino, pois elas sofrem com condições inadequadas de trabalho. Há também muitas dificuldades para se treinar e manter um time de futebol feminino no Brasil, já que inexiste estrutura nas equipes de base e falta profissionalização da categoria. Para se sustentarem financeiramente, muitas jogadoras são obrigadas a trabalharem em outras atividades remuneradas antes de irem para os treinos, já que o que recebem como atletas é insuficiente, prejudicando o treino de alto rendimento. Além disso, há desinteresse tanto das marcas em investir no futebol feminino quanto também do público em irem aos estádios.

 Enfim, compactuo da ideia de que as mulheres não podem “deixar a bola rolar”, em se tratando de visibilidade e respeito no futebol feminino. Elas terão ainda que suar muito a camisa, não só em campo, mas principalmente na sociedade, para driblarem o preconceito e terem o respeito merecido. O futebol feminino tem tanto potencial quanto o masculino. Mas é preciso que isso esteja muito claro na sociedade. Precisamos formar uma torcida só, que grita e torce para que o futebol feminino cresça, se fortaleça e seja tão respeitado quanto o masculino. E uma torcida quando quer, sabe fazer a diferença. Avante, sociedade!

Arlete Mesquita é advogada, Vice-Presidente da Abrat, palestrante e foi Auditora do Tribunal de Justiça Desportiva de Goiás - TJD/GO (2014/2016). É a primeira mulher no Brasil a compor o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no cargo de auditora (2016/2020).